Muitas vezes nos perguntamos o que ainda há de novo no universo da arte da geometria. Essa linguagem tem dado ao Brasil alguns expoentes da maior criatividade, invenção e descoberta, além de trazer, ao longo dos tempos, novas ideias e novos conteúdos. Gabriela é uma artista silenciosa que sempre ou quase sempre se voltou ao fazer geométrico. Ressalte-se a sua geometria com diferentes recursos de linguagens e técnicas, ora com a vibração das cores, ora com relevos brancos, onde a sua busca se completa, harmonicamente, com certos volumes.
A obra atual de Gabriela são esses quadros de grandes formatos, onde a geometria se ajusta aos cortes verticais, formando linhas que se transformam em sutis recortes de cores e repetições. Seus quadros se repetem onde a cor tem essencialmente a sua existência e a sua sensualidade. As obras trazem um profundo sentimento de adequação entre a linha, a cor e a forma.
A cor tem a sua contenção tonal, torna-se sintética em seu registro monocromático, vibrando em plena ação de modelar o espaço. A forma se transforma no espaço da própria obra, frente e verso vazados pelos cortes simetricamente armados. É a linha de que essa artista se vale para seu desafio de procura quase cinética dos seus cortes, quebrando a ilusão dos ritmos nela contidos, como se quebrasse sequências de um espaço não mais contínuo, mas vibrante.
Gabriela Pires da Costa se renova e se reinventa nela própria, seu trabalho provoca o espectador com a vibração sugerida em toda a sutileza da matéria e da emanação da cor. Ela demonstra como a forma pode interagir com a ação de uma artista na sua contemporaneidade, em sua procura por novas soluções e percepções para a pintura e a geometria.
Emanoel Araujo